sábado, 23 de janeiro de 2010

Less TV

Passando pela rua, por volta das quatro da tarde, cruzei com um rapaz que procurava algo no lixo. Pior ainda: nem havia lixeira. O "algo", provavelmente comida, devia estar no fundo daquela sacola preta, jogada no chão.
Um cachorro estava por perto, o aguardava mais que observava. Sim, o rapaz revirava o lixo da sacola tal qual um cão faria, mas ainda assim era um homem, e todos sabemos que os cães são os melhores amigos.
Olhei a cena, foi bem rápido, estava a passos apressados e pensei "Porra, tem um cara morrendo de fome bem aqui, um cachorro olhando e eu estou indo ver filme no Centur.. que merda, hein" . Pensei e continuei caminhando.
E o meu maldito pensamento me provou o contrário hoje e, certamente, alguém me diria que esta foi a grande ironia do dia.
O filme era Monty Python - O Sentido da Vida (1983), o último do grupo. Superprodução, críticas exageradas e totalmente descaradas, humor inteligente pra valer, como não se vê [muito] nos dias de hoje.
A exibição fez parte da Sessão Cult do Cine Líbero Luxardo (CENTUR), a qual oferece um debate aberto ao final da sessão. E o melhor de tudo foi essa breve, porém proveitosa, conversa entre os críticos de cinema da ACCPA e o público.
A disussão passou por vários temas, principalmente as críticas do filme, também puxando outros assuntos como os sintomas da Doença Cultural que vêm se perpetuando desde sabe-se lá quando...
As pessoas têm visto poucos filmes, assistido a poucas peças de teatro, lido menos ainda... Na realidade, o que foi realmente discutido foi o estímulo ao pensamento.
Por que as pessoas não procuram algo que as alimente culturalmente nos dias de hoje?
Por que não se dão ao trabalho de assistir a filme como Monty Python The Meaning of Life e realmente se perguntar: Qual o sentido da vida? [afinal, fica em aberto...]
E esse tipo de questionamento acabou caindo na temática da Educação.
Se seu filho vai à escola e, mesmo assim, o professor passa um melodrama qualquer para discutir na aula de literatura ou usa letras com pouco conteúdo para as aulas de português, é hora de acordar e se perguntar o que vem acontecendo com o senso crítico do ser humano, e digo mais, dos indivíduos da sociedade brasileira.
Discutiu-se também a suposta continuidade crítica que deveria se seguir da escola para a universidade. Infelizmente, não é o que acontece. Os colégios só se preocupam em aprovar os estudantes no vestibular, permitindo, muitas vezes, que eles cheguem vazios, sem conteúdo algum, no mundo acadêmico, na vida.
Qual o problema com pensar?
Refletindo sobre isso, já na volta para a casa, lembrei do novo grupo que está se formando de frequentadores do circuito alternativo de cinema de Belém (do qual tenho me considerado parte). Muita gente acha que "filme cult" não é pra todo mundo, e não faz a mínima questão de difundir a cultura. As programações e sinopses ficam retidas naquele seleto grupo, que se acha culto demais para se misturar com "os outros".
Como também foi discutido, o que está faltando é ESTÍMULO! E falo de estímulo cultural.
Antes, não sei quando, a sociedade era bombardeada de estímulos culturais, vindo de todas as direções: música, teatro, literatura, cinema, fotografia, pintura, dança... E hoje, INFELIZMENTE, temos que PROCURAR o estímulo, PROCURAR a cultura.

Mas quem procura acha!
E quem achar deve compartilhar... certo?
Então faço minha parte apresentando a agenda cultural online de Belém - Guiart (http://www.guiart.com.br/), o blog da ACCPA (http://accpara.blogspot.com/) e o Portal Cultura (http://www.portalcultura.com.br/).

Ainda queria falar mais sobre educação e o papel do educador na sociedade... Mas acho que perdi o fio da meada.
Mas uma coisa é certa, a minha licenciatura plena em Ciências Biológicas também se destinará a fazer as pessoas pensarem!
Porque pensar é inerente ao ser humano.
Porque pensar é conseqüência de um estímulo.

5 comentários:

  1. As pessoas hoje em dia procuram apenas em dividir e cotar a sociedade ao invés de torná-la uma coisa só. Isso não só vale para a cultura, como para todos os tipos de comunicação. Até uma conversa civilizada pode estar em risco de entrar em tal dilema.
    Ou há muitas pessoas na rua te dando bom dia quando passam?

    É mais fácil guardar a moeda achada para você ao invés de comprar doces e compartilhá-los com amigos.

    ResponderExcluir
  2. Pensar realmente é ser "humano"!Acredito que as pessoas pensam sobre o sentido das coisas, sobre lições de moral, sobre difundir cultura e outras coisas mais, no entanto, é verdade que praticar aquilo que pensamos é escolha de cada um, difundir a filosofia, o questionamento...
    As pessoas se deparam com a chance de divulgar, explorar ou fazerem a diferença, mas acabam criando aversão à estas escolhas e se desviam da obrigação de cuidar da saúde social.

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. É realmente uma época complicada, que se exige das pessoas ter cultura e pensar, mas se insinua que investir nisso é "perda de tempo"[horas de trabalho]. Afinal, qual o "lucro concreto"[dinheiro] de pensar acerca do sentido da vida?
    Isso é apenas um detalhe, no entanto, existem outros fatores envolvidos.

    ResponderExcluir
  5. Olá madame Z,

    Gostei dos pontos abordados no blog, mas senti falta de concisão entre as ideias nos parágrafos. É uma realidade que uma elite intelectual nesse país, no caso do texto Belém, concentra-se em "guetos culturais" uma vez que uma sessão de cinema com Monty Python faz menos sucesso que o mistério de feiurinha.

    ResponderExcluir